Coluna: (Re)Flexionário
Autora: Mandy
Nos últimos meses as ruas de São
Paulo andam tomadas pela falta de emoção e reação. A rotina
insana para acompanhar o tic-tac do relógio e as responsabilidades
no trabalho têm preenchido o tempo dos indivíduos, mas esvaziado
suas almas.
Suas mentes não têm mais conteúdo,
ou reflexões da vida. Suas mentes trabalham de modo automático nas
engrenagens do capital de modo que todos tornaram-se novamente
cidadãos padrão em busca de uma chance de sobrevivência nesta
selva de pedra.
Mas lembro-me quando, a chance de
sobrevivência era uma chama no coração de quem percorria estas
mesmas lutas, com esta mesma mente cheia de ideias, ideologias,
sonhos, esperanças, e lembro-me ainda que com essa chama dentro de
cada um, havia a chama que exalava fumaça e subia aos céus. Pois,
haviam atos de revolução tão intensos quanto um sentimento de
sonho queimando dentro do ser.
Havia o gás, a resposta para toda
indignação, e havia a força, a resposta para toda libertação.
Em algum ponto desses dias nos
perdemos. Estávamos em um laboratório e tínhamos a fórmula
perfeita. Usávamos como escudo os velhos teóricos, os clássicos,
sim aquelas páginas amareladas e empoeiradas, nossas ideias eram a
prova de balas (como já dizia V), e nossa arma era nossa ousadia
adolescente, nossas mãos, nossos braços, pernas e coração
buscando por emoção, e a emoção teria um custo, mas estávamos
dispostos a pagar o preço, estávamos nas ruas fazendo coisas que
todo jovem coração faz, estávamos desobedecendo, mas dessa vez não
era nossos pais, dessa vez era uma sociedade toda, dessa vez era uma
imensa estrutura política, dessa vez era um mundo baseado no
patriarcado, um mundo inteiro fundado nas bases injustas e corruptas
de um estado falido, dessa vez era uma luta pelos oprimidos e contra
os opressores, dessa vez era fogo contra fogo, e o povo pelo povo.
Chegamos à linha de estouro,
chegamos no BOOM, faltava pouco para o laboratório explodir criando
novas descobertas como a autonomia e liberdade, só uma gota a mais
da química jovem e idealista teria criado a fórmula certa para uma
revolução social, iniciando um novo tipo de caos que busca a
desconstrução, para a construção de um novo mundo. Tijolo por
tijolo, teríamos virado o estado, talvez o país pro outro lado.
E aí retrocedemos, a repressão, a
perseguição e demais fatores ameaçadores foram capazes de destruir
nossas bases e unidades. Reduzindo-nos a poucas centenas, quase
dezenas de pessoas que hoje enfrentam o fogo com o pouco de oxigênio
que lhes sobrou.
Acabei me recordando do Renato Russo
que dizia: “Até pouco tempo atrás, poderíamos mudar o mundo,
quem roubou nossa coragem? Tudo é dor, e toda dor, vem do desejo de
não sentirmos dor”.
Então quando será que todos os
corações deixarão a dor de lado e permitirão que as chamas do
sonho de mudanças e revolução incendeiem toda a alma? Deixando os
rastros de sonhos nas ruas?
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